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sábado, 29 de outubro de 2011
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
A primavera Árabe
A
primavera Árabe
Por:
Bruno Ferreira
É uma
onda de revoluções que começou nos países árabes e vem ocorrendo no oriente médio
e no norte da áfrica desde o fim de 2010 até a data de hoje, tem havido
revoluções na Tunísia e no Egito, uma guerra civil na Líbia;
grandes protestos na Argélia, Bahrein, Djibuti, Iraque, Jordânia, Síria, Omã e Iémen e protestos
menores no Kuwait, Líbano, Mauritânia, Marrocos, Arábia Saudita,
Sudão e Saara Ocidental.
Esses movimentos de revoltas começou na Tunísia
passou por Egito derrubando o governo ditorial. Esses protestos vem
ocorrendo através de greves, passeatas e por meio de guerra civil contra o
governos ditoriais, derrubaram ditaduras no norte da áfrica e por ultimo caiu o
governo de Mummar Kadafi.
Derrubada
de três chefes de Estado: o presidente da Tunísia, Zine El Abidine Ben Ali,
fugiu para a Arábia Saudita em 14 de janeiro, na sequência dos protestos da Revolução de Jasmim; no Egito,
o presidente Hosni Mubarak renunciou em 11 de Fevereiro de 2011, após 18 dias de protestos em massa,
terminando seu mandato de 30 anos; e na Líbia, o presidente Muammar al-Gaddafi, morto
em tiroteio após ser capturado no dia 20 de outubro e torturado por rebeldes.
Os
motivos dessas manifestações são anos de repressão e a pouca expectativa de
sucesso, trabalho, justiça social entre outros contribuíram para que a sociedade
estagnada, como as sociedades que sofrem, esses protestos entram em guerra
civil, vale ressaltar a a pressão
internacional pela democracia e forte, e interesses econômicos como jazidas de petróleo
estão por trás dos motivos políticos, a internet contribuiu e muito para que a
primavera árabe toma se o poder nesses países.
Esses conflitos ainda não terminaram e estão ocorrendo em partes do oriente medio e norte da africa, o mapa abaixo mostra como encontra-se esses conflitos.
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
Entrevista de Erik Hobsbawm " O Novo Seculo"
Aos 92
anos, o historiador britânico Eric Hobsbawm continua um feroz crítico da
prevalência do modelo político-econômico dos EUA. Para ele, o presidente
americano Barack Obama, ao lidar com as consequências da crise econômica,
desperdiçou a chance de construir maneiras mais eficazes de superá-la.
"Podemos desejar sucesso a Obama, mas acho que
as perspectivas não são tremendamente encorajadoras", diz, na entrevista
abaixo. "A tentativa dos EUA de exercer a hegemonia global vem fracassando
de modo muito visível."
Hobsbawm discute ainda questões globais
contemporâneas --como as tentativas de criar Estados supranacionais, a
xenofobia e o crescimento econômico chinês-- à luz do que expressou em livros
como "Era
dos Extremos" e "Tempos
Interessantes" (ambos publicados pela Cia. das Letras).
Pergunta - "Era dos Extremos" termina em
1991, com um panorama de avalanche global --o colapso das esperanças de avanços
sociais globais da era de ouro [segundo Hobsbawm, 1949-73]. Quais são as
mudanças mais importantes desde então na história mundial?
Eric Hobsbawm - Vejo quatro mudanças principais. Primeiro, o
deslocamento do centro econômico do mundo do Atlântico Norte para o sul e o
leste da Ásia. Isso já estava começando no Japão nas décadas de 1970 e 80, mas
a ascensão da China desde os anos 1990 vem fazendo uma diferença real.
Em segundo lugar, é claro, a crise mundial do
capitalismo, que vínhamos prevendo, mas que, mesmo assim, levou muito tempo
para ocorrer. Em terceiro, a derrota retumbante da tentativa dos EUA de exercer
a hegemonia global solo a partir de 2001 --e essa tentativa vem fracassando de
modo muito visível.
Em quarto lugar, a emergência de um novo bloco de
países em desenvolvimento, como entidade política --os Brics [Brasil, Rússia,
Índia e China]--, não tinha acontecido quando escrevi "Era dos
Extremos". E, em quinto lugar, a erosão e o enfraquecimento sistemático da
autoridade dos Estados: dos Estados nacionais no interior de seus territórios
e, em grandes regiões do mundo, de qualquer tipo de autoridade de Estado efetiva.
Isso pode ter sido previsível, mas se acelerou em um grau que eu não teria
previsto.
Pergunta - O que mais o surpreendeu desde então?
Hobsbawm - Nunca deixo de me espantar com a pura e simples
insensatez do projeto neoconservador, que não apenas fez de conta que a América
fosse o futuro, mas chegou a pensar que tivesse formulado uma estratégia e uma
tática para alcançar esse objetivo. Pelo que consigo enxergar, eles não tinham
uma estratégia coerente, em termos racionais.
Em segundo lugar --fato muito menor, mas significativo--,
o ressurgimento da pirataria, algo que já tínhamos em grande medida esquecido;
isso é novo. E a terceira coisa, que é ainda mais local: a derrocada do Partido
Comunista da Índia (Marxista) em Bengala Ocidental [no leste da Índia], algo
que eu realmente não teria previsto.
Prakash Karat, seu secretário-geral, disse-me
recentemente que o partido se sentiu sitiado e assediado em Bengala Ocidental.
E está prevendo sair-se muito mal diante deste novo Congresso nas eleições
locais. Isso depois de governar por 30 anos como partido nacional, por assim
dizer.
Pergunta - O sr. visualiza qualquer recomposição
política do que foi no passado a classe trabalhadora?
Hobsbawm - Não em sua forma tradicional. Marx [1818-83]
acertou, sem dúvida, quando previu a formação de grandes partidos de classe em
determinado estágio da industrialização. Mas esses partidos, quando foram
bem-sucedidos, não operaram puramente como partidos da classe trabalhadora: se
queriam estender-se para além de uma classe estreita, o faziam como partidos do
povo, estruturados em torno de uma organização inventada pela classe
trabalhadora e voltada a alcançar os objetivos dela.
Mesmo assim, havia limites à consciência de classe.
No Reino Unido, o Partido Trabalhista nunca conquistou mais de 50% dos votos. O
mesmo se aplica à Itália, onde o Partido Comunista era muito mais um partido do
povo. Na França, a esquerda era baseada sobre uma classe trabalhadora
relativamente fraca, mas que conseguiu se reforçar como sucessora essencial da
tradição revolucionária.
O declínio da classe operária manual na indústria
parece, de fato, ter atingido seu estágio terminal. Ainda restam ou vão restar
muitas pessoas fazendo trabalhos manuais, e a defesa das condições de trabalho
delas continua a ser uma tarefa importante de todos os governos de esquerda.
Mas essa defesa não pode mais ser o alicerce principal das esperanças dessas
pessoas: elas não possuem mais potencial político, nem mesmo teoricamente,
porque não possuem o potencial de organização da classe operária antiga.
Houve três outras mudanças negativas importantes.
Uma delas, é claro, é a xenofobia --que, para a maior parte da classe
trabalhadora é, nas palavras usadas certa vez por [August] Bebel, "o
socialismo dos tolos": proteja meu emprego contra pessoas que estão
competindo comigo.
Em segundo lugar, boa parte da mão de obra e do
trabalho nos setores que a administração pública britânica qualificava no
passado como "graus menores e manipulativos" não é permanente, mas
temporária: são estudantes e migrantes trabalhando com catering [fornecimento
de refeições para linhas aéreas, gastronomia hospitalar e cozinhas de navios],
por exemplo. Assim, não é fácil enxergá-la como tendo potencial de ser
organizada.
A única parte facilmente organizável desse tipo de
mão de obra é a que é empregada por autoridades públicas, e isso devido ao fato
de essas autoridades serem politicamente vulneráveis.
A terceira e mais importante mudança é, a meu ver,
a divisão crescente gerada por um novo critério de classe: a saber, a aprovação
em exames de escolas e universidades como critério de acesso a empregos.
Pode-se dizer que se trata de uma meritocracia, mas ela é medida,
institucionalizada e mediada por sistemas de ensino.
O que isso fez foi desviar a consciência de classe
da oposição aos patrões para a oposição a representantes de alguma elite:
intelectuais, elites liberais, pessoas que se erguem como superiores a nós.
Podem existir meios novos? Não podem mais ser em
termos de uma classe única, mas, na minha opinião, isso nunca foi possível.
Existe uma política progressista de coalizões, mesmo coalizões relativamente
permanentes como as que unem, digamos, a classe média instruída, leitora do
"The Guardian", e os intelectuais --os altamente instruídos, que de
modo geral tendem a posicionar-se muito mais à esquerda que outros-- e a massa
dos pobres e ignorantes.
Os dois grupos são essenciais para um movimento
como esse, mas hoje talvez seja mais difícil uni-los do que era antes. É
possível, em certo sentido, os pobres se identificarem com os multimilionários,
como acontece nos EUA, dizendo "eu só precisaria de sorte para virar
popstar". Mas não é possível dizer "bastaria um pouco de sorte para
eu virar ganhador do Prêmio Nobel". Isso cria um problema real quando se
trata de coordenar as posições políticas de pessoas que, objetivamente falando,
poderiam estar do mesmo lado.
Pergunta - Que comparações o sr. traçaria entre a
crise atual e a Grande Depressão?
Hobsbawm -[A crise de] 1929 não começou com os bancos
--eles só caíram dois anos mais tarde. O que aconteceu, na verdade, foi que a
Bolsa de Valores [de Nova York] desencadeou uma queda na produção, com um
índice muito mais alto de desemprego e um declínio real muito maior na produção
do que havia ocorrido em qualquer momento até então.
A depressão atual levou mais tempo sendo preparada
que a de 1929, que pegou quase todos de surpresa. Deveria ter sido claro desde
cedo que o fundamentalismo neoliberal gerou uma instabilidade enorme nas
operações do capitalismo. Até 2008, isso pareceu afetar apenas as áreas
periféricas --a América Latina nos anos 1990 e no início da década de 2000, o
Sudeste Asiático e a Rússia.
Parece-me que o verdadeiro indício de algo grave
acontecendo deveria ter sido o colapso da Long-Term Capital Management [fundo
de investimentos sediado nos EUA], em 1998, que provou como estava errado o
modelo inteiro de crescimento. Mas o incidente não foi visto como tal.
Paradoxalmente, a crise levou vários empresários e jornalistas a redescobrirem
Karl Marx como alguém que tinha escrito algo interessante sobre uma economia
globalizada moderna. Não teve absolutamente nada a ver com a antiga esquerda.
A economia mundial em 1929 era menos global do que
é hoje. Isso exerceu algum efeito, é claro --por exemplo, teria sido muito mais
fácil então para as pessoas que perderam seus empregos retornarem a suas
cidadezinhas de origem.
A existência da União Soviética não exerceu efeito
concreto sobre a Depressão, mas seu efeito ideológico foi enorme: significava
que havia uma alternativa. Desde os anos 1990, temos assistido à ascensão da
China e das economias emergentes, fato que vem realmente exercendo um efeito concreto
sobre a depressão atual, na medida em que esses países vêm ajudando a manter a
economia mundial muito mais equilibrada do que ela estaria sem eles.
Na verdade, mesmo na época em que o neoliberalismo
estava supostamente em plena forma, o crescimento real estava ocorrendo em
muito grande medida nessas economias em desenvolvimento recente
--particularmente na China. Tenho certeza de que, não fosse pela China, a queda
de 2008 teria sido muito mais séria.
Pergunta - E o que dizer das consequências políticas?
Hobsbawm - A Depressão de 1929 levou a um desvio
avassalador para a direita, com a exceção notável da América do Norte,
incluindo o México, e da Escandinávia. Na França, a Frente Popular teve apenas
0,5% mais votos em 1936 do que tinha em 1932, de modo que sua vitória assinalou
uma mudança na composição das alianças políticas, e não alguma coisa mais
profunda. Na Espanha, apesar da situação quase ou potencialmente
revolucionária, o efeito imediato e, de fato, também o efeito de longo prazo
foi um desvio para a direita.
Na maioria dos outros países, especialmente na
Europa central e do leste, a política se desviou para a direita de modo muito
acentuado.
O efeito da crise atual não é tão nítido. Podemos
imaginar que grandes mudanças políticas devem ocorrer não apenas nos EUA ou no
Ocidente, mas quase certamente na China. Mas podemos apenas especular sobre
quais serão essas mudanças.
Pergunta - O sr. antevê que a China continue a
resistir ao declínio?
Hobsbawm - Não há nenhuma razão em especial para prever que
a China pare de crescer de uma hora para outra. A depressão causou um choque
grave ao governo chinês, na medida em que paralisou muitas indústrias,
temporariamente. Mas o país ainda se encontra nos estágios iniciais do
desenvolvimento econômico, e há espaço enorme para expansão.
Não quero tecer especulações sobre o futuro, mas
podemos imaginar que, dentro de 20 ou 30 anos, a importância relativa da China
no palco mundial será maior do que é hoje --pelo menos econômica e
politicamente, mas não necessariamente em termos militares. É claro que o país
ainda enfrenta problemas enormes; sempre há pessoas que se perguntam se a China
vai conseguir continuar unida. Mas acho que as razões reais e ideológicas para
que as pessoas desejem que a China se mantenha unida continuam muito fortes.
Pergunta - Que avaliação o sr. faz da administração
[do presidente dos EUA, Barack] Obama?
Hobsbawm - As pessoas ficaram tão satisfeitas com a eleição
de um homem como ele, especialmente em um momento de crise, que pensaram que certamente
seria um grande reformador, que faria o que Roosevelt [presidente dos EUA,
1933-45, responsável pelo New Deal, série de programas econômicos e sociais
contra a Grande Depressão] fez.
Mas Obama não o fez. Ele começou mal. Se
compararmos os primeiros cem dias de Roosevelt com os primeiros cem dias de
Obama, o que salta à vista é a disposição de Roosevelt em aceitar assessores
não oficiais, em experimentar algo novo, comparada à insistência de Obama em se
conservar no centro. Acho que ele desperdiçou sua chance.
Podemos desejar sucesso a Obama, mas acho que as
perspectivas não são tremendamente encorajadoras.
Pergunta - Voltando-nos ao teatro mais explosivo de
conflito internacional no mundo no presente, o sr. pensa que a solução de dois
Estados, conforme visualizada no momento, é uma perspectiva digna de crédito
para a Palestina?
Hobsbawm - Pessoalmente, duvido que ela exista neste
momento. Seja qual for a solução possível, nada vai acontecer enquanto os
americanos não decidirem mudar totalmente de posição e aplicar pressão sobre
Israel.
Pergunta - Existem lugares do mundo nos quais o sr.
acha que projetos positivos e progressistas ainda estejam vivos ou tenham
chances de ser reativados?
Hobsbawm - Na América Latina, com certeza, a política e o
discurso público geral ainda são conduzidos nos velhos termos do iluminismo
--liberais, socialistas, comunistas. Esses são os lugares onde se encontram
militaristas que falam como socialistas --que são socialistas. Encontram-se
fenômenos como [o presidente] Lula, baseado em um movimento da classe
trabalhadora, e [o presidente boliviano Evo] Morales.
Para onde isso vai levar é outra questão, mas a
velha linguagem ainda pode ser falada, e os velhos modos políticos ainda estão
disponíveis. Não estou inteiramente certo quanto à América Central, embora
existam indícios de um ligeiro "revival" da tradição da revolução no
próprio México --não que isso vá muito longe, na medida em que o México já foi
virtualmente integrado à economia americana.
Acho que a América Latina se beneficiou da ausência
de nacionalismo étnico-linguístico e de divisões religiosas, e isso fez com que
fosse muito mais fácil conservar o discurso antigo. Sempre chamou minha atenção
o fato de que, até muito recentemente, não se viam sinais de política étnica.
Esta apareceu entre movimentos indígenas no México e no Peru, mas não em escala
remotamente comparável ao que se viu na Europa, na Ásia ou na África.
É possível que projetos progressistas possam
renascer na Índia, devido à força institucional da tradição secular de Nehru
[que se tornou premiê da Índia após a independência do país, em 1947]. Mas isso
não parece penetrar muito entre as massas, com a exceção de algumas regiões em
que os comunistas têm tido ou tiveram apoio de massa, como em Bengala e Kerala,
e possivelmente alguns grupos como os naxalitas ou os maoístas no Nepal.
Além disso, o legado dos velhos movimentos
trabalhistas, socialistas e comunistas na Europa continua bastante forte. Os
partidos fundados sob [a influência de Friedrich] Engels ainda são, em quase
toda parte na Europa, potenciais partidos governistas ou os principais partidos
de oposição. Desconfio que em algum momento a herança do comunismo, por exemplo
nos Bálcãs ou até mesmo em parte da Rússia, possa se manifestar de maneiras que
não podemos prever.
O que vai acontecer na China eu não sei. Mas não há
dúvida de que eles estão pensando em termos diferentes, não em termos maoístas
ou marxistas modificados.
Pergunta - O sr. sempre foi crítico do nacionalismo
como força política, avisando à esquerda que não deve pintá-lo de vermelho. Mas
também se manifestou de modo contundente contra violações de soberania nacional
cometidas em nome de intervenções humanitárias. Após a falência dos tipos de
internacionalismo nascidos do movimento trabalhista, que tipos são desejáveis
hoje?
Hobsbawm - Em primeiro lugar, o humanitarismo, o
imperialismo dos direitos humanos, não tem muito a ver com internacionalismo. É
indicativo ou de um imperialismo renascido, que encontra nele uma desculpa
adequada para cometer violações de soberania de Estados --podem ser desculpas
absolutamente sinceras--, ou então, o que é mais perigoso, é uma reafirmação da
crença na superioridade permanente da região que dominou o planeta do século 16
até o final do século 20.
Afinal, os valores que o Ocidente procura impor são
valores especificamente regionais, não necessariamente universais. Se fossem
valores universais, teriam que ser reformulados em termos diferentes. Não creio
que estejamos lidando aqui com algo que seja nacional ou internacional em si.
Mas o nacionalismo exerce um papel nisso, sim,
porque a ordem nacional baseada em Estados-nações --o sistema westfaliano-- tem
sido no passado, para o bem ou para o mal, uma das melhores proteções contra a
chegada de elementos externos a países. Não há dúvidas de que, uma vez que ela
é abolida, o caminho fica aberto para guerras agressivas e expansionistas --de
fato, é por essa razão que os EUA têm criticado a ordem westfaliana.
O internacionalismo, que é a alternativa ao nacionalismo,
é uma coisa espinhosa. Ou é um slogan politicamente vazio, como foi,
concretamente falando, no movimento trabalhista internacional --não queria
dizer nada específico--, ou é uma maneira de assegurar uniformidade para
organizações centralizadas e poderosas como a Igreja Católica ou a
Internacional Comunista.
O internacionalismo significava que, como católico,
você acreditava nos mesmos dogmas e participava das mesmas práticas, não
importa quem você fosse ou onde vivesse. O mesmo acontecia, teoricamente, com
os partidos comunistas. Em que medida isso realmente aconteceu, e em que
estágio deixou de acontecer --mesmo dentro da Igreja Católica--, é outra
questão. Não é realmente isso o que queríamos dizer com
"internacionalismo".
O Estado-nação foi e continua a ser o quadro em que
são tomadas todas as decisões políticas, domésticas e externas. Até muito
recentemente, as atividades dos partidos trabalhistas --na verdade, todas as
atividades políticas-- eram conduzidas quase inteiramente dentro do contexto de
um Estado.
Mesmo dentro da UE [União Europeia], a política
ainda é articulada em termos nacionais. Em outras palavras, não existe um poder
de ação supranacional --apenas Estados separados formando uma coalizão.
É possível que o islã missionário e fundamentalista
constitua uma exceção a essa regra, abarcando Estados, mas isso ainda não foi
demonstrado concretamente. As tentativas anteriores de criação de Superestados
pan-árabes, como a tentativa entre Egito e Síria, fracassaram precisamente
devido à persistência das fronteiras existentes --antes coloniais-- dos
Estados.
Pergunta - Então o sr. vê obstáculos inerentes a
quaisquer tentativas de extrapolar as fronteiras do Estado-nação?
Hobsbawm - Economicamente e na maioria dos outros aspectos
--inclusive culturalmente, até certo ponto--, a revolução das comunicações
criou um mundo genuinamente internacional, no qual há poderes de decisão que se
transnacionalizam, atividades que são transnacionais e, é claro, movimentos de
ideias, comunicações e pessoas que são mais facilmente transnacionais do que
jamais antes.
Mesmo as culturas linguísticas hoje são
suplementadas por expressões idiomáticas das comunicações internacionais. Na
política, contudo, não se vê nenhum sinal de que isso esteja acontecendo, e é
essa a contradição básica no momento.
Uma das razões pelas quais não vem acontecendo é
que, no século 20, a política foi democratizada em grau muito grande --a massa
da população comum se envolveu nela. Para essa massa, o Estado é essencial para
suas operações cotidianas normais e para suas possibilidades de vida.
Tentativas de fragmentar o Estado internamente,
pela descentralização, foram empreendidas, em sua maioria nos últimos 30 ou 40
anos, e algumas delas não deixaram de ter algum sucesso --na Alemanha, com
certeza, a descentralização vem tendo alguma medida de sucesso, e na Itália a
regionalização vem sendo benéfica.
Mas as tentativas de criar Estados supranacionais
não têm funcionado. A UE é o exemplo mais óbvio disso. Ela foi prejudicada, até
certo ponto, pelo fato de seus fundadores terem pensado precisamente em termos
de um Superestado análogo a um Estado nacional, apenas maior --sendo que essa
não era uma possibilidade, creio, e hoje com certeza não é. A UE é uma reação
específica no interior da Europa.
Em um ou outro momento se viram sinais de um Estado
supranacional no Oriente Médio e em outros lugares, mas a UE é o único que
parece ter ido adiante. Não acredito, por exemplo, que exista muita chance de
uma federação maior surgir na América do Sul. Pessoalmente, eu apostaria contra
essa possibilidade.
Logo, o problema ainda não resolvido continua a ser
a seguinte contradição: por um lado, há entidades e práticas transnacionais que
estão em processo de esvaziar o Estado, talvez ao ponto de levá-lo ao colapso.
Mas, se isso acontecer --coisa que não é uma perspectiva imediata, não em
Estados desenvolvidos--, quem se encarregará da função redistributiva e de
outras funções até agora empreendidas unicamente pelo Estado?
No momento, temos uma espécie de simbiose e
conflito. Esse é um dos problemas básicos de qualquer tipo de política popular
hoje.
Pergunta - O nacionalismo claramente foi uma das
grandes forças motrizes da política no século 19 e boa parte do século 20. O que
o sr. diz da situação atual?
Hobsbawm - Não há dúvida alguma de que o nacionalismo foi,
em grande medida, parte do processo de formação dos Estados modernos, que
exigiu uma forma de legitimação diferente da do Estado tradicional teocrático
ou dinástico. A ideia original do nacionalismo era a criação de Estados
maiores, e me parece que essa função unificadora e de expansão foi muito
importante.
Um exemplo típico foi o da Revolução Francesa, na
qual, em 1790, pessoas apareceram dizendo: "Não somos mais delfineses ou
sulistas --somos todos franceses".
Em uma etapa posterior, dos anos 1870 em diante,
vemos movimentos de grupos no interior desses Estados impulsionando a criação
de seus Estados independentes. Isso, é claro, gerou o momento wilsoniano de
autodeterminação --se bem que, felizmente, em 1918-19, ele ainda fosse
corrigido, até certo ponto, por algo que desde então desapareceu por completo,
a saber, a proteção das minorias.
Era reconhecido, mesmo que não pelos próprios
nacionalistas, que nenhum desses novos Estados-nações era, de fato, étnica ou
linguisticamente homogêneo. Mas, depois da Segunda Guerra [1939-45], os pontos
fracos das situações existentes foram enfrentados, não apenas pelos vermelhos,
mas por todos, pela criação proposital e forçada da homogeneidade étnica. Isso
provocou uma quantidade enorme de sofrimento e crueldade, e, no longo prazo,
também não funcionou.
Apesar disso, até aquele período, o tipo
separatista de nacionalismo operou razoavelmente bem. Ele foi reforçado após a
Segunda Guerra Mundial pela descolonização, que, por sua própria natureza,
havia criado mais Estados; e foi fortalecido ainda mais, no final do século,
pela queda do império soviético [em 1991], que também criou novos Miniestados
separados, incluindo muitos que, assim como aconteceu com as colônias, não
tinham desejado de fato separar-se, mas aos quais a independência foi imposta
pela força da história.
Não posso deixar de pensar que a função dos Estados
separatistas pequenos, que se multiplicaram tremendamente desde 1945, mudou.
Para começo de conversa, eles são reconhecidos como existentes. Antes da
Segunda Guerra, os Miniestados --como Andorra, Luxemburgo e todos os outros--
nem sequer eram vistos como parte do sistema internacional, exceto pelos
colecionadores de selos.
A ideia de que tudo, até a Cidade do Vaticano, hoje
é um Estado, potencialmente membro das Nações Unidas, é nova. Está muito claro,
também, que, em termos de poder, esses Estados não são capazes de exercer o
papel de Estados tradicionais --não possuem a capacidade de travar guerra
contra outros Estados.
Tornaram-se, na melhor das hipóteses, paraísos
fiscais ou bases subalternas úteis para as instâncias decisórias
transnacionais. A Islândia é um bom exemplo disso, e a Escócia não fica muito
atrás.
A função histórica de criar uma nação como
Estado-nação deixou de ser a base do nacionalismo. Pode-se dizer que não é mais
um slogan muito convincente. Pode ter sido eficaz, no passado, como meio de
criar comunidades e organizá-las contra outras unidades políticas ou
econômicas.
Hoje, porém, o fator xenofóbico do nacionalismo é
cada vez mais importante. Quanto mais a política foi democratizada, maior foi o
potencial para isso. As causas da xenofobia são muito maiores do que eram no
passado. Trata-se de algo muito mais cultural que político --basta pensar na
ascensão do nacionalismo inglês ou escocês nos últimos anos--, mas nem por isso
menos perigoso.
Pergunta - O fascismo não incluía essas formas de
xenofobia?
Hobsbawm - O fascismo ainda foi, até certo ponto, parte da
investida para criar nações maiores. Não há dúvida de que o fascismo italiano
foi um grande passo à frente na conversão de calabreses e úmbrios em italianos;
e mesmo na Alemanha, foi apenas em 1934 que os alemães puderam ser definidos
como alemães, e não alemães pelo fato de serem suábios, francos ou saxões.
É verdade que os fascismos alemão e europeu central
e oriental foram acirradamente contrários a outsiders --judeus, em grande
medida, mas não apenas eles. E, é claro, o fascismo forneceu uma garantia menor
contra os instintos xenofóbicos.
Uma das vantagens enormes dos movimentos
trabalhistas antigos era que eles forneciam essa garantia. Isso ficou muito
claro na África do Sul: não fosse pelo compromisso das organizações de esquerda
tradicionais com a igualdade e a não discriminação, teria sido muito mais
difícil resistir à tentação de cometer atos de vingança contra os africânderes.
Pergunta - O sr. destacou as dinâmicas separatistas
e xenofóbicas do nacionalismo. O sr. vê isso como algo que hoje atua nas
margens da política mundial, e não no teatro principal dos acontecimentos?
Hobsbawm - Sim, acho que isso é provavelmente certo
--embora existam regiões em que o nacionalismo causou danos enormes, como no
sudeste da Europa. Ainda é verdade, é evidente, que o nacionalismo --ou o
patriotismo, ou a identificação com um povo específico, que não precisa
necessariamente ser definido por critérios étnicos-- seja um enorme fator de
legitimação dos governos.
Isso é claramente o caso na China. Um dos problemas
da Índia, hoje, é que não existe nada exatamente assim por lá. Os EUA,
obviamente, não podem ser definidos por uma unidade étnica, mas certamente têm
sentimentos nacionalistas fortes.
Pergunta - Como o sr. prevê a dinâmica social da
imigração contemporânea hoje, num momento em que tantos migrantes chegam
anualmente à UE e aos EUA? O sr. prevê a emergência gradual de outro caldeirão
cultural na Europa, não dessemelhante ao americano?
Hobsbawm - Mas o caldeirão cultural nos EUA deixou de sê-lo
desde os anos 1960. Ademais, no final do século 20, a migração já era algo
realmente muito diferente das migrações de períodos anteriores, em grande
medida porque, ao emigrar, as pessoas já não rompem os vínculos com o passado
no mesmo grau em que o faziam antes.
É possível continuar vivendo em dois, possivelmente
até três, mundos ao mesmo tempo, e a identificar-se com dois ou três lugares distintos.
É possível continuar a ser guatemalteco mesmo vivendo nos EUA. Também há
situações como as da UE, nas quais, concretamente, a imigração não gera a
possibilidade de assimilação. Um polonês que vem para o Reino Unido não é visto
como nada além de um polonês que vem trabalhar no país.
Isso é claramente novo e muito diferente da
experiência de pessoas da minha geração, por exemplo --a geração dos emigrados
políticos, não que eu tenha sido um--, na qual nossa família era britânica, mas
culturalmente nunca deixávamos de ser austríacos ou alemães; mas, apesar disso,
acreditávamos realmente que deveríamos ser ingleses.
Mesmo quando um desses emigrados retornasse a seu
próprio país, mais tarde, não era exatamente a mesma coisa --o centro de
gravidade tinha se deslocado. Sempre há exceções: o poeta Erich Fried
[1921-88], que viveu em Willesden (zona noroeste de Londres) por 50 anos,
continuou, de fato, a viver na Alemanha.
Acredito realmente que é essencial conservar as
regras básicas da assimilação --que os cidadãos de um país particular devem
comportar-se de determinada maneira e gozar de determinados direitos, e que
esses comportamentos e direitos devem defini-los, e que isso não deve ser
enfraquecido por argumentos multiculturais.
A França havia, apesar de tudo, integrado mais ou
menos tantos de seus imigrantes estrangeiros quanto os EUA, relativamente
falando, e, mesmo assim, o relacionamento entre os locais e os ex-imigrantes é
quase certamente melhor lá. Isso acontece porque os valores da República Francesa
continuam a ser essencialmente igualitários e não fazem nenhuma concessão
pública real.
Seja o que for que você faça no âmbito pessoal
--era também esse o caso nos EUA no século 19--, publicamente esse é um país
que fala francês. A dificuldade real não será tanto com os imigrantes quanto
com os locais. É em lugares como Itália e Escandinávia, que não tinham
tradições xenofóbicas prévias, que a nova imigração vem criando problemas
sérios.
Pergunta - Hoje é amplamente disseminada a ideia de
que a religião tenha retornado como força imensamente poderosa em um continente
após o outro. O sr. vê isso como um fenômeno fundamental ou como fenômeno mais
passageiro?
Hobsbawm - Está claro que a religião --entendida como a
ritualização da vida, a crença em espíritos ou entidades não materiais que
influenciariam a vida e, o que não é menos importante, como um elo comum entre
comunidades-- está tão amplamente presente ao longo da história que seria um
equívoco enxergá-la como fenômeno superficial ou que esteja destinado a
desaparecer, pelo menos entre os pobres e fracos, que provavelmente sentem mais
necessidade de seu consolo e também de suas potenciais explicações do porquê de
as coisas serem como são.
Existem sistemas de governo, como o chinês, que não
possuem concretamente qualquer coisa que corresponda ao que nós consideraríamos
ser religião. Eles demonstram que isso é possível, mas acho que um dos erros do
movimento socialista e comunista tradicional foi optar pela extirpação violenta
da religião em épocas em que poderia ter sido melhor não fazê-lo. Uma das
grandes transformações interessantes advindas após a queda de Mussolini na
Itália foi quando [Palmiro] Togliatti [secretário-geral do Partido Comunista
Italiano] deixou de discriminar os católicos praticantes --e com razão.
De outro modo, ele não teria conseguido que 14% das
donas de casa votassem nos comunistas na década de 1940. Isso mudou o caráter
do Partido Comunista Italiano, que passou de partido leninista de vanguarda a
partido classista de massas ou partido do povo.
Por outro lado, é verdade que a religião deixou de
ser a linguagem universal do discurso público; e, nessa medida, a secularização
vem sendo um fenômeno global, embora apenas em algumas partes do mundo ela
tenha enfraquecido gravemente a religião organizada.
Para as pessoas que continuam a ser religiosas, o
fato de hoje existirem duas linguagens do discurso religioso gera uma espécie
de esquizofrenia, algo que pode ser visto com bastante frequência entre, por
exemplo, os judeus fundamentalistas na Cisjordânia --eles acreditam em algo que
é evidentemente tolice, mas trabalham como especialistas nisso.
O movimento islâmico atual é composto, em grande
medida, por jovens tecnólogos e técnicos desse tipo. Com certeza, as práticas
religiosas vão mudar muito substancialmente. Se isso vai realmente produzir uma
secularização maior não está claro. Por exemplo, não sei até que ponto a grande
mudança na religião católica no Ocidente --ou seja, a recusa das mulheres em
pautar-se pelas normas sexuais-- realmente levou as mulheres católicas a serem
menos crentes.
O declínio das ideologias do iluminismo deixou um
espaço político muito maior para a política religiosa e as versões religiosas
de nacionalismo. Mas não creio que todas as religiões tenham vivido uma ascensão
grande. Muitas delas estão claramente em declínio.
O catolicismo está lutando arduamente, mesmo na
América Latina, contra a ascensão de seitas evangélicas protestantes, e tenho
certeza de que está se mantendo na África apenas graças a concessões aos
hábitos e costumes sociais que eu duvido que tivessem sido feitas no século 19.
As seitas evangélicas protestantes estão em
ascensão, mas não está claro até que ponto são mais que uma minoria pequena
entre os setores sociais com mobilidade ascendente, como era o caso antigamente
com os não conformistas na Inglaterra. Tampouco está claro que o
fundamentalismo judaico, que causa tanto mal em Israel, seja um fenômeno de
massas.
A única exceção é o islã, que vem continuando a se
expandir sem nenhuma atividade missionária efetiva nos últimos dois séculos.
Dentro do islã, não está claro se tendências como o movimento militante atual
pela restauração do califado representam mais que uma minoria ativista.
Contudo, me parece que o islã possui grandes trunfos que favorecem sua expansão
contínua --em grande medida, porque confere às pessoas pobres o sentimento de
que valem tanto quanto todas as outras e que todos os muçulmanos são iguais.
Pergunta - Não se poderia dizer o mesmo do
cristianismo?
Hobsbawm - Mas um cristão não crê que vale tanto quanto
qualquer outro cristão. Duvido que os cristãos negros acreditem que valham
tanto quanto os colonizadores cristãos, enquanto alguns muçulmanos negros
acreditam nisso, sim. A estrutura do islã é mais igualitária, e o elemento
militante é mais forte no islã.
Recordo-me de ter lido que os mercadores de
escravos no Brasil deixaram de importar escravos muçulmanos porque eles
insistiam em rebelar-se sempre. Onde estamos, esse apelo encerra perigos
consideráveis --em certa medida, o islã deixa os pobres menos receptivos a
outros apelos por igualdade.
Os progressistas no mundo muçulmano sabiam desde o
início que não haveria maneira de afastar as massas do islã; mesmo na Turquia,
tiveram que encontrar alguma forma de convivência --aliás, esse foi
provavelmente o único lugar onde isso foi feito com êxito.
Pergunta - A ciência foi uma parte central da
cultura da esquerda antes da Segunda Guerra, mas, ao longo das duas gerações
seguintes, virtualmente desapareceu como elemento central do pensamento
marxista ou socialista. O sr. acha que o destaque crescente das questões
ambientais deverá reaproximar a ciência da política radical?
Hobsbawm - Tenho certeza de que os movimentos radicais vão
se interessar pela ciência. O ambiente e outras preocupações geram razões
fundamentadas para combater a fuga da ciência e da abordagem racional aos
problemas, fuga que se tornou bastante ampla a partir dos anos 1970 e 80. Mas,
com relação aos próprios cientistas, não creio que isso vá acontecer.
Diferentemente dos cientistas sociais, não há nada
que leve os cientistas naturais a se aproximarem da política. Historicamente
falando, eles, na maioria dos casos, têm sido apolíticos ou seguiram a política
padrão de sua classe.
Existem exceções --entre os jovem na França do
início do século 19, digamos, e, muito notavelmente, nas décadas de 1930 e
1940. Mas esses são casos especiais, que se devem ao reconhecimento por parte
dos próprios cientistas de que seu trabalho estava se tornando cada vez mais
essencial para a sociedade, mas que a sociedade não se dava conta disso.
O trabalho crucial sobre isso é "The Social
Function of Science" [A Função Social da Ciência, MIT Press], de [J.D.]
Bernal, que exerceu efeito enorme sobre outros cientistas. É claro que o ataque
deliberado de Hitler contra tudo o que a ciência representava ajudou.
No século 20, as ciências físicas estiveram no
centro do desenvolvimento, enquanto no século 21 está claro que são as ciências
biológicas que estão. Pelo fato de estarem mais próximas da vida humana, pode
haver um elemento de politização maior. Mas há um fato contrário, com certeza:
cada vez mais, os cientistas têm sido integrados ao sistema do capitalismo,
tanto como indivíduos quanto no interior de organizações científicas.
Quarenta anos atrás, teria sido impensável alguém
falar em patentear um gene. Hoje, patenteia-se um gene na esperança de virar
milionário, e esse fato afastou um grupo bastante grande de cientistas da
política da esquerda. A única coisa que ainda poderá politizá-los é a luta
contra governos ditatoriais ou autoritários que interferem em seu trabalho.
Um dos fenômenos mais interessantes na União
Soviética foi que os cientistas lá foram forçados a se politizar, porque
receberam o privilégio de um certo grau de direitos e liberdades --de tal
maneira que pessoas que, de outro modo, não teriam passado de leais fabricantes
de bombas de hidrogênio se tornaram líderes dissidentes.
Não é impossível que isso venha a ocorrer em outros
países, embora não existam muitos no momento. É claro que o ambiente é uma
questão que pode manter muitos cientistas mobilizados. Se houver um
desenvolvimento maciço de campanhas em torno das mudanças climáticas, então é
evidente que os especialistas se verão engajados, em grande medida combatendo os
reacionários e os que nada sabem. Logo, nem tudo está perdido.
Pergunta - O que o atraiu originalmente para o tema
das formas arcaicas de movimento social, em "Rebeldes Primitivos", e
até que ponto o sr. planejou isso de antemão?
Hobsbawm - Isso surgiu a partir de duas coisas. Quando
percorri a Itália na década de 1950, eu não parava de topar com fenômenos
aberrantes --representações partidárias no sul do país elegendo testemunhas de
Jeová como secretários, e assim por diante; pessoas que refletiam sobre problemas
modernos, mas não nos termos aos quais estávamos acostumados.
Em segundo lugar, especialmente após 1956, isso
expressava uma insatisfação geral com a versão simplificada que tínhamos do
desenvolvimento de movimentos populares da classe trabalhadora.
Em "Rebeldes Primitivos", eu estava muito
longe de ser crítico da leitura padrão-- pelo contrário, eu observava que esses
outros movimentos não chegariam a nenhum lugar a não ser que, mais cedo ou mais
tarde, adotassem o vocabulário e as instituições modernas.
A despeito disso, ficou claro para mim que não
bastava simplesmente ignorar esses outros fenômenos, dizer que sabíamos como
todas essas coisas operam. Eu produzi uma série de ilustrações desse tipo,
estudos de caso, e disse: "Estes não se encaixam".
Isso me levou a pensar que, antes mesmo da invenção
do vocabulário, dos métodos e das instituições políticas modernas, existiam
maneiras como as pessoas praticavam política que englobavam ideias básicas
sobre as relações sociais --entre elas, em grau não menor, as relações entre
poderosos e fracos, governantes e governados-- que possuíam uma certa lógica e
se encaixavam.
Mas eu realmente não tive oportunidade de levar
esse estudo adiante.
Pergunta - Em "Tempos Interessantes"
[publicado em 2002], o sr. expressou reservas consideráveis em relação ao que
eram na época modismos históricos recentes. O sr. acha que o cenário
historiográfico continua relativamente inalterado?
Hobsbawm - Estou cada vez mais impressionado com a escala
do desvio intelectual verificado na história e nas ciências sociais desde os
anos 1970. Minha geração de historiadores, que de modo geral transformou o
ensino da história, além de muitas outras coisas, procurou essencialmente
estabelecer um vínculo permanente, uma fertilização mútua, entre a história e
as ciências sociais; era um esforço que datava dos anos 1890.
A disciplina econômica seguiu uma trajetória
diferente. Dávamos como certo que estávamos falando de algo real: de realidades
objetivas, embora, desde Marx e a sociologia do conhecimento, soubéssemos que
as pessoas não registram a verdade simplesmente como ela é.
Mas o que era realmente interessante eram as
transformações sociais. A Grande Depressão foi instrumental nesse aspecto,
porque reapresentou o papel exercido por grandes crises nas transformações
históricas --a crise do século 14, a transição ao capitalismo. Não foram, na
realidade, os marxistas que introduziram isso --foi Wilhelm Abel, na Alemanha,
o primeiro a fazer a releitura dos fatos da Idade Média à luz da Grande
Depressão dos anos 1930. Éramos um grupo que procurava resolver problemas, que
se preocupava com as grandes questões. Havia outras coisas cuja importância
diminuíamos: éramos tão contrários à história tradicionalista, à história dos
governantes e figuras importantes, ou mesmo à história das ideias, que
rejeitávamos isso tudo.
Em algum momento da década de 1970, ocorreu uma
mudança acentuada. Em 1979-80 a [revista de história] "Past &
Present" publicou uma troca de ideias entre Lawrence Stone e mim sobre o
"revival da narrativa" --"o que está acontecendo com as grandes
perguntas 'por quê'?". De lá para cá, as grandes perguntas transformativas
vêm sendo esquecidas pelos historiadores, de maneira geral.
Ao mesmo tempo, ocorreu uma expansão enorme do
âmbito da história --passou a ser possível escrever sobre qualquer coisa que se
quisesse: objetos, sentimentos, práticas. Parte disso era interessante, mas
também se viu um aumento enorme do que se poderia chamar de história de
fanzine, na qual grupos escrevem com o objetivo de se sentirem mais positivos a
seu próprio respeito.
O exemplo clássico disso é o dos indígenas
americanos que se recusaram a acreditar que seus ancestrais tivessem migrado da
Ásia, afirmando "sempre estivemos aqui".
Boa parte desse desvio foi político, em algum
sentido. Os historiadores oriundos de 1968 não se interessavam mais pelas
grandes perguntas --pensavam que todas já tinham sido respondidas. Estavam
muito mais interessados nos aspectos voluntários ou pessoais. O [periódico]
"History Workshop" foi um desenvolvimento tardio desse tipo.
Não acho que os novos tipos de história tenham
produzido quaisquer mudanças dramáticas. Na França, por exemplo, a história
pós-Braudel não se compara à que foi feita pela geração dos anos 1950 e 1960.
Pode haver trabalhos ocasionais muito bons, mas não é a mesma coisa. E estou
inclinado a pensar que o mesmo pode ser dito do Reino Unido. Houve um elemento
de antirracionalismo e de relativismo nessa reação dos anos 1970, que, ao todo,
constatei ser hostil à história.
Por outro lado, houve alguns avanços positivos. O
mais positivo destes foi a história cultural, que todos nós, inegavelmente,
tínhamos deixado de lado. Não prestamos atenção suficiente à história do modo
como ela de fato se apresenta a seus atores.
O livro "A Europa e os Povos Sem
História" [Edusp], de Eric Wolf, é um exemplo de uma mudança positiva
nesse respeito.
Também ocorreu uma ascensão enorme da história
global. Entre não historiadores tem havido muito interesse pela história geral
--ou seja, em como a raça humana começou. Graças a pesquisas de DNA, hoje
sabemos muita coisa sobre a expansão de humanos através do planeta. Em outras
palavras, dispomos de uma base genuína para uma história mundial.
Outro avanço positivo, em grande medida por parte
dos americanos e em parte, também, dos historiadores pós-coloniais, tem sido a
reabertura da questão da especificidade da civilização europeia ou atlântica e
da ascensão do capitalismo -- "The Great Divergence" [Princeton
University Press], de [Kenneth] Pomeranz, e assim por diante. Isso me parece
muito positivo, embora seja inegável que o capitalismo moderno surgiu em partes
da Europa, e não na Índia ou China.
Pergunta - Se o sr. tivesse que escolher tópicos ou
campos ainda inexplorados e que representam desafios importantes para
historiadores futuros, quais seriam?
Hobsbawm - O grande problema é um problema muito geral.
Segundo padrões paleontológicos, a espécie humana transformou sua existência
com velocidade espantosa, mas o ritmo das transformações tem variado
tremendamente. Isso claramente indica um controle crescente sobre a natureza,
mas não devemos imaginar que sabemos para onde isso nos está conduzindo.
Os marxistas focaram, com razão, as transformações
no modo de produção e em suas relações sociais como sendo geradoras de
transformações históricas.
Contudo, se pensarmos em termos de como "os
homens fazem sua própria história", a grande questão é a seguinte:
historicamente, comunidades e sistemas sociais buscaram a estabilização e a
reprodução, criando mecanismos para prevenir-se contra saltos perturbadores no
desconhecido. A resistência à imposição de transformações de fora para dentro
ainda é um fator preponderante na política mundial, hoje. Como, então, humanos
e sociedades estruturados para resistir a transformações dinâmicas se adaptam a
um modo de produção cuja essência é o desenvolvimento dinâmico interminável e
imprevisível?
Os historiadores marxistas poderiam beneficiar-se
da pesquisa das operações dessa contradição fundamental entre os mecanismos que
promovem transformações e aqueles que são voltados a opor resistência a elas.
Esta entrevista foi publicada originalmente na
edição de janeiro/fevereiro da revista britânica "New Left Review".
Folha Ilustrada, 18/04/2010
terça-feira, 25 de outubro de 2011
A educação Aprendizagem e didática
A educação Aprendizagem e didática
Por: Bruno Ferreira
O processo de
aprendizagem passa pelo modo que você vai obter o conhecimento e o meio pelo
qual o seu professor vai passar o conhecimento e meio didático.
O processo da educação
consiste de varias formas e vários meios, mas temos que saber que cada individuo
tem um tempo para que ocorra a aprendizagem, ouve um período em que aquela
pessoa que não acompanhasse o processo de aprendizagem era considerada burro,
ou incapaz hoje vemos que esse conceito e equivocado.
Para
a educação ocorrer com sucesso tem uma formula ritmo, tempo, tranqüilidade, paciência
e persistência esse e o fundamento para que o educando tenha sucesso no
processo de aprendizagem.
Nem
todos obedecem a regra de se preparar para receber o conhecimento de forma que
posso de fato obter o sucesso mas cada individuo tem seu ritmo tempo e forma
pela qual pode obter o sucesso.
O
papel do professor e fundamental no processo de aprendizagem mas deve saber que
nos dias de hoje o professor vem perdendo espaço para a internet, televisão e
outros meios tecnológicos que informam e educam de forma mais atrativa, o aluno
mudou e para isso o papel do professor deve mudar não sendo mais uma enciclopédia,
mas sim o instrutor que leva o aluno a buscar o conhecimento e levantar
curiosidade no individuo.
Nesse
processo a didática que o professor usa para o aprendizado do aluno e importante,
mudar a aula fazer com que ela seja sempre atrativa, dinâmica e tenha um espírito
bom que posso ser algo de paz para o aluno e não algo que force o aluno em um
conflito e debates intermináveis.
Por
fim o professor deve se renovar ao processo de aprendizagem acompanhar o tempo
que vive e conhecer um pouco de tudo, mas que saiba que não é mais a enciclopédia
o professor mudando sua postura concerteza o aluno se interessara pela a aula,
e o aluno vai alcançar os objetivos que o professor quer, e que o aluno
precisa.
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
Muito Obrigado pelos 10 MIL ACESSOS
Dia 24/ outubro de 2011
A Líbia O Fim da ERA Muamar Kadafi
A
Líbia
O
Fim da ERA Muamar Kadafi
Por:
Bruno Ferreira
No ano de 2011 a Líbia ficara para a historia por
fazer parte das transformações ocorridas nos países mulçumanos, conhecida essa época
como primavera árabe, essas mudanças
estão no contexto mais amplo não apenas sendo uma revolta da população contra
os governos autoritários despóticos mas inclui nisso interesse internacional de
empresas petrolíferas que querem o petróleo árabes, por outros motivos nesse
contexto a queda de Muammar Kadafi entra na história desses conflitos.
Muammar Abu Minyar al-Gaddafi foi um ditador, militar, político e ideólogo líbio e de facto chefe de estado do seu país entre 1969
e 2011.
Quando
presidia o conselho da Revolução Líbia
de 1969, nacionalizou a indústria do petróleo e converteu-se no primeiro representante do pan-islamismo. Nas décadas de 1970 e 1980, apoiou diversos movimentos guerrilheiros árabes no Terceiro Mundo.
Em
2011, frente a protestos pedindo sua derrocada do poder, Gaddafi respondeu aos
manifestantes com violência, porém as manifestações contrárias ao seu governo
se intensificaram. Então eclodiu no país a uma violenta guerra civil,
colocando em confronto forças leais e contrárias ao ditador. Durante este
conflito, Gaddafi foi acusado de cometer vários crimes contra a humanidade
e um mandado de prisão foi expedido contra ele pela Corte Penal Internacional.
Em agosto de 2011, tropas do Conselho Nacional de Transição
atacaram e conquistou a capital durante a Segunda batalha de Trípoli
colocando assim Gaddafi e seu governo em fuga. Em 20 de outubro, após oito
meses de guerra, Gaddafi é morto em Sirte por simpatizantes do
Conselho Nacional de Transição.
Vamos agora
como começeu a historia de kadafi, nasceu em uma tenda no deserto da líbia filho
de uma família tradicional Teve contato com beduínos comerciantes que viajavam pela região de Surt, com
quem adquiriu e formou suas precoces posições políticas.
A tomada do poder da líbia acontece No
ano de 1969 o governo de Idris I passava por uma crise de
impopularidade, pois grandes quantidades de petróleo líbio estavam sendo utilizadas pelos Estados Unidos,
sem qualquer compensação à Líbia. Admirador do líder egípcio e nacionalista árabe Gamal Abdel Nasser,
Muammar al-Gadhafi, aos 27 anos de idade, foi naquele membro das tropas
revolucionárias que tomaram o governo do país, no dia 1º de setembro de 1969,
tendo como líder Mahmud
Sulayman al-Maghribi. Coronéis do exército líbio invadiram Trípoli e
obrigaram Idris a renunciar
Logo após o golpe de estado, Al Magrabbi sai de cena e Qadhafi, como líder
da revolução líbia, com a
patente de coronel, toma o poder, substituindo o príncipe regente Ridah e o rei
ausente (licenciado para fins médicos na Grécia e no Egito), Ídris I, tio de Ridah.
Uma vez instalado no governo do país,
Qadhafi declara ilegais as bebidas alcoólicas e os jogos de azar. Exige e obtém a retirada americana e inglesa de
bases militares, expulsa as comunidades judaicas e aumenta decididamente a participação
das mulheres na sociedade. Além disso, retiram da Líbia todos os americanos
vindos através da aliança entre Idris I e os EUA, fecham danceterias, bordéis e
bares instalados pelos americanos, impondo a toda Líbia o respeito aos
preceitos morais do islamismo. Proibiu a exportação de
petróleo para os EUA e confisca propriedades internacionais.
Em seu Livro Verde, lançado na década de 1970, Gaddafi expôs sua
filosofia política, apresentando uma alternativa nacional ao socialismo e ao capitalismo, combinada com aspectos do islamismo. Em 1977 criou o conceito de Jamahiriya ou "Estado das massas", em que o poder é exercido através de
milhares de "comitês populares".
Em 2011,
no bojo das revoltas sociais no norte da África, Gaddafi sofreu um ataque revolucionário por parte da oposição líbia e, em um sinal de ruptura com o governo, a delegação da
Líbia na ONU acusou Kadafi de genocídio e fez um apelo por sua renúncia. Diversas autoridades, inclusive o ministro da Justiça, Mustafá Abdel
Yalil, e diplomatas em diferentes países, renunciaram, em protesto
contra o uso excessivo de força na repressão das manifestações. Diplomatas que representavam o governo de Kadafi na China, na Índia e na Liga Árabe deixaram seus cargos em protesto ao governo. De
acordo com a organização americana Human Rights Watch, os
protestos na Líbia deixaram pelo menos 233 mortos. Há relatos de que em apenas
um dia 160 manifestantes teriam morrido. Após a renúncia das autoridades, Saif al-Islam Muammar
Al-Gaddafi anunciou a criação de uma comissão para investigar
episódios violentos durante os protestos. A comissão será dirigida por um juiz,
e incluirá membros de organizações de direitos humanos Líbios e estrangeiras.
Uma coalizão de líderes muçulmanos líbios emitiu uma declaração dizendo
que é obrigação de todo muçulmano se rebelar contra o governo líbio.
Devido a indícios de crimes contra a
humanidade cometidos pelas tropas do governo contra os rebeldes e civis líbios,
nas áreas de insurreição e combate, em 16 de maio de 2011, Luis Moreno-Ocampo,
Procurador-Chefe do Tribunal Penal Internacional,
sediado em Haia, solicitou mandato internacional de captura e prisão
contra o líder líbio, por crimes contra a Humanidade.
Em agosto de 2011, as tropas do
Conselho Nacional de Transição lançaram-se sobre Trípoli na Segunda batalha de Trípoli
e conquistaram a cidade. Apoiados pela OTAN,
os rebeldes líbios atacaram várias outras cidades litorâneas até chegar à
capital. Logo após a queda da cidade, Gaddafi, seus parentes e membros do seu
governo fugiram. Para a comunidade internacional, Gaddafi não fala mais pelo
povo líbio, tendo essa autoridade agora recaindo sobre o CNT.
Em 20
de outubro de 2011, após a queda de Sirte, o último
grande reduto das forças de Gaddafi, o Conselho Nacional de Transição
informou oficialmente à Al Jazeera que Gaddafi havia sido
capturado.
Em
pouco tempo a Líbia terá um novo governo que obedecerá a um critério ser democrático
mas democrático a quem? Ao povo da Líbia ou aos interesses internacionais de
multinacionais, vale lembrar que a queda de Kadafi representa sim um avanço
contra as tiranias, mas também não podemos esquecer, que de bons homens se faz
o inferno, e os países ocidentais com suas multinacionais tem forte interesse
no oriente médio.
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