As grandes navegações
As grandes viagens marítimas
dos séculos XV-XVI foram uma continuação natural do renascimento do comércio na Europa,
iniciado ainda na Idade Média. Esse renascimento deu origem ao capitalismo, cujo elemento impulsionador é o lucro. Era natural então
que, esgotadas as possibilidades de desenvolvimento comercial na Europa, novas
regiões passassem a ser exploradas, mesmo à custa de muito esforço e sacrifício.
Entre os fatores que motivaram as grandes
navegações marítimas, o principal foi sem dúvida a busca de lucros pela burguesia comercial e financeira da Europa. Por
isso, a burguesia européia investia vultosos recursos para armar
esquadras, remunerar tripulações, para financiar, enfim, as expedições oceânicas. Neste mesmo sentido,
foi importante também o apoio de alguns monarcas, com os de Portugal e Espanha, que partilhavam os
lucros dos empreendimentos comerciais.
As navegações
portuguesas
Como vimos, Portugal foi o
primeiro país a empreender sistematicamente a navegação atlântica. Mesmo antes
do bloqueio do Mediterrâneo pelos
turcos, os portugueses já haviam iniciado a exploração das costas da África.
Sem dúvida, a posição geográfica de Portugal contribuiu
para o seu pioneirismo. Com todo o litoral voltado para o Atlântico,
o país tinha nas atividades marítimas uma importante base econômica: a pesca ocupava
boa parte de sua população
e seus portos serviam No entanto,
esse não foi o principal fator do pioneirismo português nas grandes
navegações. O mais importante foi o fato de Portugal ter um governo forte, centralizado na pessoa do rei, e cujo interesse fundamental eram as atividades comerciais. A partir da Revolução
de Avis, a vida política portuguesa
passou a girar em torno do rei. E os reis da dinastia de Avis, conduzida ao trono com o apoio dos comerciantes, empenharam-se principalmente em levar adiante
empreendimentos de natureza
essencialmente comercial. de escala para os navios que faziam o
percurso de ida e volta entre o Mediterrâneo e o mar do Norte.
Também contribuíram
para o êxito português os estudos desenvolvidos em Sagres, no sul de Portugal. Ali, o Infante
Dom Henrique, filho do Rei Dom João I, reuniu numerosos pilotos, cartógrafos e astrônomos, cujos trabalhos favoreceram o avanço da arte de navegar e impulsionaram a
expansão marítima portuguesa.
Descobrimento do Brasil
Pouco depois do
retorno de Vasco da Gama a Portugal,
o Rei Dom Manuel, o Venturoso, mandou
organizar uma esquadra com o objetivo de garantir a supremacia
portuguesa na Índia. Outra finalidade da expedição era difundir a religião
cristã entre os pagãos. A esquadra, a maior até então organizada em Portugal, era composta de treze navios
e tinha uma tripulação de aproximadamente
1200
homens. Para comandá-la, o rei escolheu Pedro Álvares Cabral, fidalgo de uma
das mais tradicionais famílias portuguesas.
Cabral partiu de Lisboa no dia 9
de março de 1500. Em 22 de abril de 1500, tendo-se afastado, para oeste, da
rotas estabelecida por Vasco da Gama, avistou terra. Não se sabe ao certo o que teria levado Cabral a se afastar da rota estabelecida. Alguns autores admitem que ele teria instruções de Dom
Manuel para procurar terra no lado ocidental do Atlântico. O estabelecimento da
linha de Tordesilhas -- recuada
para oeste, em relação à da bula Inter Coetera,
por insistência de Portugal -- reforça essa hipótese, pois parece indicar que os portugueses suspeitavam da existência de terras no Atlântico Sul. No entanto,
a escassez de documentos sobre o
assunto impede que se afirme categoricamente a intencionalidade ou não do descobrimento.
Exploração do litoral brasileiro
A primeira exploração do litoral
do território descoberto foi feita pela própria esquadra de Cabral, que seguiu
paralelamente à costa em direção
norte, procurando um porto onde os navios
ficassem abrigados. O lugar escolhido recebeu o nome de Porto
Seguro e hoje chama-se baía Cabrália, localizada no atual estado da Bahia.
Durante uma semana os portugueses
ficaram na região -- batizada de Ilha de Vera
Cruz--- e mantiveram alguns contatos com os habitantes. Para assinalar
a posse da terra, Cabral
mandou erguer uma cruz com o brasão
do rei de Portugal. O nome Ilha de Vera Cruz foi substituído por Terra de Santa Cruz, mais tarde abandonado
em favor do nome Brasil, que se tornou definitivo.
No dia 2 de maio, a esquadra retomou
seu caminho para a Índia. Um dos navios, comandados por Gaspar de Lemos, foi enviado de volta a Portugal. Levava
a notícia dos acontecimentos e várias cartas,
entre elas a de Pero Vaz de Caminha,
que relatava a viagem e o descobrimento da nova terra. Antes de realizar a travessia do Atlântico, esse navio explorou
parte do litoral
ao norte de Porto Seguro.
A expedição de Martim Afonso
de Souza
Em 1530, Dom João III enviou ao Brasil a expedição
de Martim Afonso de Sousa, cujos principais objetivos eram verificar
a existência de metais preciosos, explorar e patrulhar o litoral e estabelecer
os fundamentos da colonização do Brasil. Martim Afonso tinha poderes
para nomear autoridades e distribuir terras às pessoas que quisessem permanecer
aqui para desempenhar essa missão.
Martim Afonso percorreu quase todo o litoral
brasileiro. De Pernambuco, enviou dois barcos
para explorar o litoral norte; organizou expedições
rumo ao sertão, partindo de Cabo Frio e de Cananéia; chegou até a foz do rio da Prata e depois retornou ao litoral paulista, onde fundou a vila de São Vicente
(1532). Ali se organizaram alguns
povoados, iniciou-se o plantio da cana e foram construídos
os primeiros engenhos
da colônia. Começava
assim a colonização efetiva do Brasil, apoiada
na produção de açúcar para
o mercado externo.
Início da colonização no Brasil
Além da defesa
do território, a colonização do Brasil teve outra finalidade: transformar a colônia
num empreendimento lucrativo
para Portugal.
Durante o reinado de Dom João III (1521-1557), o comércio português
na Índia entrou em crise, em virtude da concorrência de outras nações européias, principalmente da Holanda e da
Inglaterra. Ao mesmo tempo, as enormes despesas com a montagem e a
manutenção do império português na África e na Ásia -- construção de navios,
pagamento de tripulações, edificação de fortalezas
etc. --- arruinaram as finanças
do país. Nessa situação, tornava-se urgente o aproveitamento do Brasil, até então pouco lucrativo. Por outro
lado, os portugueses esperavam encontrar metais preciosos, incentivados pelas notícias da descoberta de grandes jazidas de ouro e prata na América espanhola.
Instalações produtivas açucareiras
Martin Afonso de Souza trouxe as primeiras mudas de cana-de-açúcar da ilha da Madeira e instalou o primeiro engenho
da colônia em São Vicente, no
ano de 1533. Inaugurava-se, assim, a base econômica da colonização portuguesa
no Brasil.
Os engenhos multiplicaram-se
rapidamente pela costa brasileira, chegando a 400 em 1610. A importância
econômica do açúcar como principal riqueza
colonial evidencia-se no valor das exportações do produto no período do apogeu da mineração (século
XVIII): superior a 3000
milhões de libras esterlinas, enquanto a mineração, na mesma época, gerou um
lucro de cerca de 200 milhões.
A
produção do açúcar
voltava-se exclusivamente para a exportação e, por gerar
elevados lucros comandava
a economia colonial.
Outra lavouras desenvolveram-se na colônia, mas geralmente apresentavam um caráter complementar e secundário. À produção
canavieira destinavam-se as melhores terras, grandes investimentos de capital e
a maioria da mão-de-obra.
O
responsável pela produção
-- o senhor de engenho
-- usufruía de enorme prestígio
social. Sobre um latifúndio monocultor, escravista e exportador, um
padrão de exploração agrícola denominado plantation, assentava-se a agricultura
brasileira no início da colonização de nosso território.
A região Nordeste,
destacadamente o litoral
de Pernambuco e Bahia, concentrou a maior produção
de açúcar da colônia.
As unidades açucareiras agro-exportadoras, conhecidas como engenhos,
eram compostas de grandes propriedades de terra, obtidas com as doações de sesmarias pelos donatários e representantes da Coroa (governadores-gerais) a quem se interessasse
pelo empreendimento. A grande extensão dessas propriedades impediu à formação
de uma classe camponesa e o desenvolvimento significativo de atividades comerciais e
artesanais que pudessem dinamizar um mercado interno, como ocorria em algumas regiões coloniais da América do Norte.
O engenho,
que em alguns casos chegava
a ter perto de 5 mil moradores, era constituído por extensas áreas
de florestas fornecedoras de madeira; plantações de cana; a casa-grande, residência do proprietário, sua família e agregados e se da administração; a capela; e a senzala, alojamento dos
escravos. A moenda, a casa das caldeiras e a casa de purgar formavam a fábrica
do açúcar, o engenho propriamente dito.
O produto era enviado para Portugal e depois para os
Países Baixos, onde era refinado e comercializado.
Escravos na sociedade açucareira
Diversos fatores determinaram a generalização do trabalho escravo
africano no Brasil,
a partir do final do século XVI, ao mesmo tempo que a mão-de-obra nativa deixava de ser opção
viável. Epidemias adquiridas em contato com os brancos,
mortes pelo trabalho
forçado, desarticulação de sua economia de subsistência, fugas para o
interior marcavam os povos indígenas.
Além disso, a luta dos jesuítas
contra sua escravização levou os colonos a voltarem seus olhos cada vez mais
para os escravos africanos. Há longo
tempo o trabalho já era explorado por companhias particulares graças ao
assiento, direito de explorar o tráfico negreiro cedido pelo rei, mediante pagamento.
Os negros eram capturados na
África pelos portugueses que, não raramente, promoviam ou estimulavam guerras
entre as tribos africanas para poderem comprar,
dos chefes vencedores, os negros derrotados. Aos poucos, os sobas, chefes
locais africanos, passaram a capturar seus conterrâneos e a
negociá-los com os traficantes, em troca de fumo, tecidos, cachaça, armas,
jóias, vidros, etc.
Mesmo considerando a diversidade das cifras, entre os estudiosos, sobre o tráfico
de escravos capturados na África, alguns números finais certamente estão bem próximos
do que já se chamou de “holocausto negro”. Os escravos
chegavam ao Brasil amontoados nos porões de navios negreiros chamados
tumbeiros, sujeito a condições tão insalubres pela superlotação e a longa duração
da viagem, que a média de mortalidade era estimada em 20%.
Não seria exagero estimar que o número
de vítimas envolvendo os escravos transportados e os que morreram na luta
contra as incursões brancas chegaria a algo próximo do dobro ou até do triplo dos africanos
deslocados para a América. Calcula-se
que, até o século XIX, entre 10 e 15 milhões de africanos, dos quais cerca de 40% vieram para o Brasil,
foram capturados pelos brancos e deslocados
para a América.
Apogeu e a crise do açúcar
Durante o século XVI e início
do século XVII, o Brasil
tornou-se o maior
produtor de açúcar
do mundo e o responsável pela riqueza dos senhores
de engenho, da Coroa e de comerciantes portugueses. Mas foram sobretudo os holandeses que mais se beneficiaram
com a atividade açucareira.
Responsáveis pelas etapas
de refinação e comercialização, segundo
estimativas, obtinham a terça parte
do valor do açúcar
vendido.
O
caráter exportador da economia, característico do pacto colonial
(relação entre metrópole e colônia, segunda
a política mercantilista), foi firmado pela maciça importação de mercadorias européias, como roupas, alimentos e até objetos
decorativos, para garantir o
sustento e a opulência em que viviam os senhores de engenho do Nordeste. Além
disso, a participação dos holandeses e portugueses no comércio do açúcar foi fator
que desviou a riqueza para as áreas metropolitanas.
Por razões dinásticas, entre
1580-1640, o monarca
espanhol Filipe II passou a dominar vastas
extensões da Europa.
nesse período, Portugal e suas colônias também estiveram subordinados ao
domínio espanhol.
Uma guerra de independência entre Países Baixos
e Espanha levou
os holandeses, conhecedores das técnicas de refino e comercialização do açúcar, a produzi-lo
em suas colônias. Concorrendo em melhores condições com o produto brasileiro, causaram
a queda do preço, entre 1650 e 1688, a um terço de seu valor. A crise da
produção açucareira no Brasil trouxe prejuízos tanto para a economia
portuguesa quanto para a colonial.
Diante da crise da produção colonial
de açúcar, o rei de Portugal, D. Pedro II (1683-1706), procurou soluções para superá-la, apoiando-se na atuação
de seu ministro, o conde de Ericeira, que baixou as leis “pragmáticas”.
Proibiu-se o uso de certos produtos estrangeiros, a fim de reduzir as importações e equilibrar a deficitária balança
comercial lusa, além de reorientar as atividades produtivos no reino e nas colônias, com a
ajuda de técnicos estrangeiros.
Estimulou-se no Brasil a produção
do tabaco e outros produtos alimentares destinados à exportação, bem como intensificou-se a busca das drogas do sertão. Juntamente
com a tentativa de revitalização da produção açucareira, essas medidas surtiriam
efeitos positivos um pouco mais tarde, já no início
do século XVIII, coincidindo com o princípio
da atividade mineradora. Mesmo perdendo a supremacia no conjunto da economia colonial, o açúcar, que apresentava, nessa fase, uma rentabilidade bem menor que a de séculos anteriores e concorria num mercado
bastante competitivo continuou a ser o principal produto nas exportações.
Capitanias
hereditárias
A colonização do Brasil, iniciada
em 1530 com a expedição
de Martim Afonso de Souza, não foi uma tarefa fácil. Em 1532,
Martim Afonso fundou São Vicente, a primeira vila brasileira. No entanto, um
único núcleo de povoamento na imensidade da
costa não resolvia os problemas causados
por navios franceses que vinham buscar pau-brasil.
Era necessário povoar rapidamente
a região costeira, mas a Coroa portuguesa não dispunha na época de recursos
humanos nem econômicos para colonizar,
em curto prazo, o litoral brasileiro. Por isso, a partir de 1534, o governo português
resolveu iniciar no Brasil
um processo de colonização que já havia
sido aplicado, com muito sucesso,
na ilha da Madeira e nos Açores:
a divisão da terra em capitanias. Dessa forma, a Coroa
portuguesa pretendia ocupar o território brasileiro e torná-lo uma fonte de lucros.
As capitanias eram imensos lotes de terra que se estendiam,
na direção dos paralelos, do litoral até o limite estabelecido pelo Tratado de Tordesilhas. Esses lotes foram doados em caráter vitalício
e hereditário a elementos pertencentes à pequena nobreza lusitana.
Os donatários tinham de explorar com seus próprios recursos as capitanias recebidas.
Ao doar as capitanias, a Coroa portuguesa abria mão de certos direitos
e vantagens, em favor dos donatários, esperando com isso despertar seu interesse pelas terras recebidas. A Carta de Doação e o Foral
garantiam os direitos
do capitão donatário.
- Pertenciam-lhe todas as salinas, moendas de água e quaisquer
outros engenhos da capitania.
- Podia escravizar índios em número indeterminado, mas devia
enviar 39 para Lisboa, anualmente.
-
Ficava com a
vigésima parte da renda do pau-brasil.
-
Podia criar vilas, administrar a justiça e doar sesmarias, menos para a esposa, para o filho mais velho e para judeus e estrangeiros.
Sesmaria era uma extensão de terra que o donatário
doava a quem se dispusesse
a cultivá-la. Ao contrário da capitania, da qual o donatário não tinha a propriedade (mas
apenas o uso), a sesmaria era propriedade do sesmeiro, após dois anos de real utilização.
O
rei reservava para si algumas vantagens que, na verdade, lhe garantiam
os melhores proveitos
que a terra poderia oferecer: dez por cento de todos os produtos da terra; vinte
por cento (um quinto) das pedras e metais preciosas; monopólio do pau-brasil, das drogas e das especiarias.
No Brasil, o sistema de divisão da terra em capitanias
não deu bons resultados. A grande extensão
dos lotes talvez a principal razão do insucesso. Sem recursos suficientes, os donatários só conseguiam fundar estabelecimentos precários
na região costeira
dos lotes que recebiam; não tinham condições de tentar a colonização do interior.
A enorme
distância que separava as capitanias da metrópole, de onde vinham os recursos
necessários para a sobrevivência dos
núcleos iniciais, dificultava ainda mais a colonização.
As capitanias de São Vicente e de Pernambuco, apresentaram resultados melhores
do que as outras. O sucesso dessas
capitanias se deveu ao êxito da
cultura canavieira e da criação de gado.
Com o passar do tempo, as capitanias foram revertendo ao governo português. No século XVIII, quando Portugal
era governado pelo Marquês
de Pombal, o sistema foi totalmente extinto.
Os limites das capitanias sofreram
modificações, mas determinaram os contornos gerais das províncias do Império que se limitavam
com o Atlântico; estas, por sua vez, deram origem aos Estados litorâneos do Brasil atual. Os
estados do interior tiveram origem diferente.
Governo de Tomé
de Souza
Tomé de Souza foi escolhido por Dom João III para ser o
primeiro governador-geral do Brasil.
Chegou em 29 de março de 1549, acompanhado por mais de novecentas pessoas,
entre soldados, colonos
a degredados. O governador trazia ainda material
para iniciar a construção da primeira cidade, além de algumas cabeças
de gado. Estes foram os principais fatos da administração de Tomé de Souza:
- Início das atividades dos jesuítas no Brasil. O primeiro grupo de missionários jesuítas chegou com o governador e era chefiado
pelo padre Manuel da Nóbrega.
-
Fundação de
Salvador, a primeira capital do Brasil, em 1549.
- Criação do primeiro bispado brasileiro.
- Visita às capitanias do sul, onde o governador considerou aprovada a fundação
da vila de Santo André da Borda do Campo, feita
anos antes por Martim Afonso de Souza, e proibiu que os missionários se
instalassem no sertão (medida que se revelou
inútil). As duas atitudes do
governador relacionavam-se com o fato de a capitania de São Vicente ser
considerada um ponto estratégico por
sua proximidade com as terras espanholas, com as quais inclusive, os vicentinos
mantinham muitos contatos.
- Criação das primeiras fazendas de gado.
Foi muito importante para o primeiro governo-geral a ajuda recebido do português
Diogo Álvares Correia, o Caramuru,
bem como o trabalho dos
jesuítas. Diogo Álvares vivia entre os indígenas da Bahia desde 1510 e
desempenhou importante papel como intermediário entre os portugueses e os índios.
Os sacerdotes da Companhia de Jesus, sob a chefia de Nóbrega,
fundaram em Salvador, o primeiro colégio
do Brasil. Os jesuítas penetraram no sertão, empenharam-se na catequese dos índios, fundaram
escolas para os filhos dos colonos e procuraram impor aos portugueses as normas da moral cristã no relacionamento com os indígenas. Assim, tentaram impedir a
escravização de índios e a exploração sexual das mulheres indígenas pelos colonizadores.
Governo de Duarte da Costa
O
segundo governador-geral, Duarte da Costa, chegou ao Brasil em 1553, trazendo 250 pessoas, entre elas o noviço José de Anchieta.
Vários acontecimentos marcaram a administração do segundo governador-geral:
·
Combate às
tribos indígenas do Recôncavo Baiano.
·
Expedição ao sertão, com o objetivo de procurar as tão faladas
riquezas minerais, procedentes das colônias
espanholas situadas na região andina.
·
Incidente entre o primeiro bispo, Dom Pero Fernandes
Sardinha, e o filho de Duarte da Costa, Dom Álvaro da Costa,
que trouxe conseqüências trágicas para o bispo.
Diante das críticas
de Dom Pero Fernandes à agressividade e aos
maus costumes de Dom Álvaro, a população
de Salvador se dividiu em duas facções:
uma favorável a Dom Álvaro e ao governador; outra favorável ao bispo. Dom Pero Fernandes
foi chamado a Portugal para dar explicações sobre os acontecimentos,
mas seu navio naufragou no litoral de Alagoas e ele foi morto pelos índios caetés.
·
Fundação do
Colégio de São Paulo pelos jesuítas, em 25 de janeiro de 1554.
·
Invasão do Rio
de Janeiro em 1555 pelos franceses, que pretendiam estabelecer uma colônia
naquele local. Como não
dispunha de recursos suficientes para expulsá-los, o
governador nada pôde fazer.
Governo de Mem de Sá
Um dos principais acontecimentos
durante o governo de Mem de Sá, sucessor de Duarte da Costa, foi a expulsão dos franceses no Rio de Janeiro.
Os
invasores tinham estabelecido relações cordiais com os indígenas, incitando-os
contra os portugueses.
Em 1563, os jesuítas
José de Anchieta
e Manuel de Nóbrega conseguiram firmar a paz entre os portugueses e os índios
tamoios, que ameaçavam a segurança de São Paulo e de São Vicente.
Anchieta permaneceu cinco meses como refém dos índios de Iperoig, aldeia localizada onde é hoje a cidade de Ubatuba, no
litoral norte do Estado de São Paulo. A chamada Paz de Iperoig, conseguida pelos dois sacerdotes, permitiu a sobrevivência do Colégio de São
Paulo e a permanência dos portugueses na região.
Mem de Sá, num primeiro ataque contra os invasores do Rio de Janeiro, conseguiu
destruir o forte Coligny, que eles tinham construído
na ilha de Serigipe, hoje Villegaignon, na baía de Guanabara. Depois disso, o
governador voltou à Bahia. Os franceses,
que tinham conseguido refúgio junto aos índios, seus aliados, retornaram e
reconstruíram o forte.
Em 1º de
março de 1565, o sobrinho de Mem de Sá, Estácio de Sá, fundou a cidade de São
Sebastião do Rio de Janeiro. A nova
cidade tornou-se a base das operações dos portugueses na
luta contra os franceses.
A
expulsão definitiva dos franceses só foi conseguida depois de muitas
lutas. Estácio de Sá, com a ajuda de tropas
do governador e da região de São Vicente,
derrotou os invasores
depois da batalhas do forte Coligny, de Uruçu-Mirim e da ilha do Governador
(Paranapuã). Destacaram-se nos combatentes, lado a lado com os
portugueses, os índios temiminós do Espírito Santo, comandados por Araribóia. Como recompensa, esse chefe indígena
recebeu uma sesmaria
na região do Rio de Janeiro, onde fundou a vila de São Lourenço, que deu nome à cidade de Niterói.
Mem de Sá governou até 1572, ano de sua morte. Dom Luís de Vasconcelos, que havia sido enviado em 1570 para ser o quarto
governador, morreu durante a viagem para o Brasil, quando seu navio foi atacado
por pirata franceses.
A revolta de
Beckman
No Maranhão, como em São Paulo, houve conflitos
entre os colonos
e os jesuítas por causa da escravização dos indígenas. Em
1661, por seu trabalho de intransigente defesa da liberdade dos índios, os
religiosos da Companhia de Jesus foram expulsos do Maranhão. Só puderam voltar, por decisão da Coroa, em 1680.
Nessa
data, o governo português proibiu terminantemente a escravização de índios.
Para resolver o problema
da falta de braços para a lavoura,
bem como para controlar o comércio naquela
região do Brasil, o governo
português criou, em 1682, a Companhia de Comércio do Estado do Maranhão, à qual passou a responsabilidade do monopólio da Coroa.
A
companhia não cumpriu
os compromissos assumidos, o que despertou
grande descontentamento entre os colonos
da região. Os escravos africanos
não foram trazidos
para o Maranhão em número suficiente, e os gêneros
alimentícios negociados pela companhia,
além de muito caros, não eram de boa qualidade.
Revoltaram-se contra
esta situação elementos do clero, da classe mais elevada e do povo, chefiados por Manuel Beckman, fazendeiro muito rico e respeitado na região. Os revoltosos expulsaram os jesuítas, declararam
deposto o governador e extinta a companhia
de comércio.
Beckman governou o Maranhão
durante um ano, até a chegada de uma frota portuguesa sob o comando de Gomes Freire de Andrada.
Beckman fugiu, mas foi delatado por Lázaro de Melo, sendo então preso e enforcado.
A
extinção da Companhia de Comércio do Estado do Maranhão foi mantida pelo governo português , como queriam
os revoltosos, mas os jesuítas
puderam retornar e continuar seu trabalho.